É muito comum as pessoas se confundirem no uso da crase. Alguns não a usam e outros a usam em excesso, inclusive onde não devemos usá-la.
- A crase (à) é filha do casamento da preposição a com o artigo a.
A crase (à) é super vaidosa, ela anda sempre com um acessório para enfeitá-la e diferenciá-la dos seus pais, o acento grave ( ` ) à. Fica super bonitinha e ajuda-nos a diferenciá-la da preposição a e do artigo a.
Ela também aparece na união:
- Da preposição a + o pronome demonstrativo a/as = aquela/s
Sua ideia é igual à de todos nós (neste caso a crase refere-se a aquela ideia, que está subentendida)
- Da preposição a + o pronome demonstrativo aquela(s), aquele(s), aquilo,
Refiro-me àquele livro. (a + aquele)
Onde ou quando podemos aplicá-la?
Sempre que o verbo/ termo regente, pedir a preposição a e o termo regido aceitar o artigo feminino a, usamos a crase:
"Gurgel tornou à sala e disse a Capitu que a filha chamava por ela." (MA)
Por outro lado, se entendermos que a audiência aqui não é das orelhas, senão da memória, chegaremos à exata verdade. (MA)
Neste exemplo, o verbo chegar pede a preposição a + o artigo a
chegaremos a (preposição) + a (artigo) exata verdade
A crase escolhe suas companhias. Ela não acompanha qualquer palavra.
A crase sempre antecede:
- horas
"Prima Justina escapou aos meus; eu é que não escapei ao efeito da insinuação, e no domingo, às onze horas, corri à Rua dos Inválidos." (MA)
- expressões (à moda, à francesa etc)
"E porque a palavra me estivesse a pigarrear na garganta, dei uma volta rápida, e perguntei-lhe à queima-roupa:
- Capitu como vai?" (MA)
- expressão adverbial feminina
"Era mulher por dentro e por fora, mulher à direita e à esquerda, mulher por todos os lados, e desde os pés até a cabeça." (MA)
"Não a matei por não ter à mão ferro nem corda, pistola, nem punhal; mas os olhos que lhe deitei, se pudessem matar, teriam suprido tudo." (MA)
"O canapé, que visse ou não, continuou a prestar os seus serviços às nossas mãos presas e às nossas cabeças juntas ou quase juntas." (MA)
"Só depois que a voz cresceu e o dono dela chegou à porta é que eu parei e vi o que era e onde estava." (MA)
- locuções conjuntivas e prepositivas
à medida, à proporção, à beira
"- Talvez em sonho; eu sonho às vezes com anjos e santos." (MA)
A crase nunca acompanha (não antecede):
- palavras masculinas
"(...) o que sei e que quando ouvi o meu nome ligado a tal título, deu-me vontade de dizer um desaforo." (MA)
- verbos
"Duas ou três fariam crer nelas aos outros, mas a língua que falam obriga muitas vezes a consultar os dicionários, e tal freqüência é cansativa." (MA)
"Ia a entrar na sala de visitas, quando ouvi proferir o meu nome e escondi-me atrás da porta." (MA)
- pronomes de tratamento
"Mas eu queria dizer a você..." (MA)
- pronomes ela, qualquer, essa, mim
"Não obedeci; cheguei-me a ela." (MA)
"Esta nova sensação me dominou tanto que José Dias veio a mim, e me disse ao ouvido, em voz baixa:
- Não ria assim!" (MA)
- pronomes relativos (cujo, cuja, quem)
O autor (MA), a cuja obra foram retirados os exemplos, é Machado de Assis.
Dom Casmurro é a obra a que me refiro.
- expressões ou palavras repetidas
cara a cara; passo a passo; dia a dia etc.
- nomes de cidades (que não aceitam o artigo a – por exemplo Brasília, Roma, Campinas, Lisboa)
"- Mas, senhor protonatário, - acudiu prima Justina para se ir acostumando ao uso do título, - isto o obriga a ir a Roma?" (MA)
- plural
"Quem lhe impede que vá a outras partes?" (MA)
Não podemos confundir o uso do verbo haver com a crase.
"Morreu há meia hora, enterra-se amanhã." (MA) - sentido de fazer (temporal)
"Há coisas que se não ajustam nem combinam." (MA) - sentido de existir
Resumindo, para facilitar:
USAMOS CRASE diante de:
- horas
- expressões (à moda, à francesa, etc)
- expressão adverbial feminina (à direita e à esquerda, à mão, às nossas, etc.)
- locuções conjuntivas e prepositivas (à medida, à proporção, à beira, às vezes, etc.)
NÃO USAMOS CRASE diante de:
- palavras masculinas
- verbos
- pronomes de tratamento (a você, A Vossa Senhoria, a Vossa Santidade, etc.)
- pronomes ela, qualquer, essa, mim
- pronomes relativos (a cujo, a cuja, a quem, a qual, etc.)
- expressões ou palavras repetidas (cara a cara; passo a passo; dia a dia, etc.)
- nomes de cidades (que não aceitam o artigo a – por exemplo Brasília, Roma, Campinas, Lisboa)
- plural
Nota: MA = Machado de Assis - trechos extraídos da obra: Dom Casmurro
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