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domingo, 18 de março de 2012

GERUNDISMO

Semana passada, liguei em uma operadora de celular e, após incontáveis e intermináveis minutos ouvindo aquela musiquinha chata, típica de serviços de telemarketing, uma moça simpática me atendeu. Expus meu problema, ao que ela proferiu o tão famoso jargão das operadoras de telemarketing:

"Um minuto senhora, que eu VOU ESTAR VERIFICANDO."

Há alguns anos o gerundismo virou moda, especialmente nos serviços de telemarketing e vem invadindo cada vez mais as ruas, a internet, a escrita...

A minha pergunta é: Por que usar três verbos para expressar uma única ideia, uma única ação?

Veja, no caso do VOU ESTAR VERIFICANDO, a ação principal é o verbo VERIFICAR. Seria muito mais simples se a atendesse dissesse "Um minuto senhora, que eu verificarei" ou, no máximo, "Um minuto senhora, que eu vou verificar". Gasta menos saliva, ou no caso do texto escrito, escreve-se ou digita-se menos (evita tendinite).

Na norma culta da língua, o correto seria verificarei, mas esta forma de futuro caiu em desuso, sendo que, o mais comum, o mais utilizado na linguagem cotidiana, na língua falada é "vou verificar", em que o verbo ir (vou) tem função de auxiliar.

O gerundismo é mais adequado para expressarmos uma ação contínua que está, estava ou estará acontecendo em um exato momento, por um período de continuidade. Seguem exemplos:

"- Acuda, Nastácia! Emília está se afogando!"... – gritou a menina aflita. (está = verbo auxiliar; afogando = verbo principal no gerúndio)

"'- Está bobeando sua avó, minha filha?" (está = verbo auxiliar; bobeando = verbo principal no gerúndio)

"- (...) Estou pendendo de sono... " (estou = auxiliar; pendendo = verbo principal no gerúndio)

"A preta vinha entrando com a trouxa de roupa lavada à cabeça." (vinha = verbo auxiliar no passado; entrando = verbo principal no gerúndio)

Nos exemplos citados, o verbo principal está no gerúndio e é antecedido de um verbo auxiliar e a ação está acontecendo no momento em que é narrada.

O uso do auxiliar ir (vou dar, vai fazer) sem verbo no gerúndio, é mais comum para expressarmos uma ação no futuro, como ocorrem nos exemplos:

"(...) Vou dar uma grande festa em sua honra e quero vê-la deslumbrar a corte." (futuro = darei)

"Vou portanto abandonar esta vida de costureira (...)" (futuro = abandonarei)

"Amanhã sem falta vou levar Emília ao consultório dele – disse ela ao príncipe." (futuro = levarei)

Vimos nestes exemplos que o verbo auxiliar pode ser substituído pela conjugação do verbo principal no futuro e não há necessidade de usar o gerúndio.

É mais simples e correto dizer "Vou levar Emília ao consultório" ou "Levarei Emília ao consultório" e não: "Eu vou estar levando Emília o consultório"
Não há necessidade de complicar e usar três verbos para expressar uma única ação. Se você é adepto do gerundismo e acha que está falando bonito ou falando difícil, releia este texto e livre-se do vício do gerundismo.

Se você é atendente de telemarketing ou trabalha com o público, anote em um caderninho de consulta diária o modo correto de falar e adote o hábito de dizer: "Um minuto senhora, que eu verificarei" ou, no máximo, "Um minuto senhora, que eu vou verificar".

Se você é estudante, desempregado ou tem qualquer outra profissão, releia este texto e jamais adote o gerundismo em seu cotidiano.

*Exemplos extraídos da obra Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, com exceção da frase da operadora de telemarketing.

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